sábado, 21 de fevereiro de 2015

"A Arteterapia como um novo campo do conhecimento"

tela: Kandinsky

Autoras:
Irene Gaeta Arcuri
Marília Ancona-Lopez 

“Temos arte para que a realidade não nos mate” (Nietzsche)

A Arteterapia é um novo campo do conhecimento, um campo de interfaces, interdisciplinar por natureza. Ao se constituir como um novo campo do saber, a Arteterapia se depara com a interlocução entre várias áreas do conhecimento: antropologia, arte, psicologia, neurologia, psiquiatria, filosofia, sociologia, etc, enfim, fazendo várias interlocuções, sem que seja possível que não seja assim.
Inter é sufixo latino que significa “entre”, “no meio de”. O termo “interface” carrega em si a idéia de que há uma superfície de contato, de articulação entre espaços de realidades diferentes, que pode ser mais ou menos amplo e que varia de momento para momento, ou seja, nunca é estanque. E para que dois elementos funcionem em conjunto é necessária uma conexão, ou várias. Desta maneira podemos pensar que se trata de uma área do conhecimento interdisciplinar por excelência, a qual não pretende a unidade de conhecimentos, mas a parceria e a mediação dos conhecimentos parcelares na criação de saberes.
Trata-se de um exercício que requer responsabilidade pelo pensamento, pelas idéias, pelas ações e pelos sentimentos, viabilizando o conhecimento por meio de competências multifacetadas, incluindo uma racionalidade aberta e acolhedora, pois a emergência das emoções e também da intuição deve necessariamente estar incluída no processo como um todo. Certamente, não se trata de uma proposta simples, já que, neste sentido, a Arteterapia não apresenta um escopo de conhecimento básico exclusivamente seu, como seria o caso da biologia, por exemplo, ou da psicopatologia, entrando então estas em contato com outras disciplinas; o que ocorre, a meu ver, é o surgimento de um novo saber a partir de múltiplos outros saberes, o que suscitaria porventura o termo “transdisciplinaridade” como o mais correto para designar o caminho que se descortina à nossa frente.
A perspectiva transdisciplinar requer a eficácia de uma dialógica, abertura para escutar o que se passa em outras esferas do conhecimento, mesmo mantendo posição divergente, pois é impossível saber tudo e, diferentemente da ciência cartesiana, na Arteterapia, conhecimentos divergentes não são necessariamente excludentes. A transdisciplinaridade aparece como um movimento de reconhecimento do espírito e da consciência, uma consciência nova de realidade e, a bem da verdade, uma nova realidade. È uma conciliação que resulta da compreensão e do re-equilíbrio entre o saber produzido e as necessidades interiores do Homem. Portanto, a transdisciplinaridade instala-se na interação entre o sujeito e o objeto, na compreensão de que a realidade é multidimensional, ou parafraseando Jung (1964, p.23), diante do infinitamente grande e do infinitamente pequeno: “não importa até onde o Homem estenda os seus sentidos, sempre haverá um limite à sua percepção consciente”, e a Arteterapia busca, no próprio cerne do seu nascimento, do seu desenvolvimento e da sua proposta, transcender este limite. Fazendo uso da arte como ferramenta de trabalho, a Arteterapia exalta e liberta as qualidades do indivíduo na práxis da vida, ajudando-o a sentir-se, pensar-se e a agir de acordo consigo mesmo, criando um canal de comunicação entre seus conteúdos conscientes e seus conteúdos inconscientes, ao longo de sua existência. Trabalhando a criatividade, dando forma, cor, expressão aos sentimentos inonimados, conexões são feitas e novos significados podem ser atribuídos a velhas situações vividas que não puderam ter livre canal de expressão no momento em que ocorreram. A arte devolve a liberdade à alma aprisionada pelo vazio, pelo medo, ou ainda pelos sentimentos não nomeados (Arcuri, 2004), e leva à concretização dos anseios das necessidades interiores do ser humano.
Arteterapia pode ser considerada como a utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos, baseando-se na percepção de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Age a serviço das leis da necessidade interior do Homem e facilita o entrar em contato com o poder criador de cada um, permitindo transpor para o exterior o que ocorre – via de regra, de maneira caótica – no interior, levando assim o paciente a poder observar, refletir, interagir, dialogar e elaborar. Proporciona o reconhecimento da dinâmica psíquica que é uma via de acesso à totalidade de ser. O arteterapeuta amplia e desdobra o potencial do processo de criação do ser humano, como que num processo alquímico, ou como diria são Tomáz de Aquino citando Avicenna em seu Tratado da Pedra Filosofal: “tudo aquilo que existe em potência pode ser reduzido em ato”.
As percursoras da Arteterapia foram Margaret Naumburg, em 1941, e Edith Kramer, em 1958. Naumburg foi responsável por sistematizar a Arteterapia. Começou a desenvolver sua teoria a partir do âmbito educacional e fez algumas relações com trabalhos realizados de forma espontânea. Suas técnicas de Arteterapia eram baseadas na pressuposição de que todo individuo pode projetar seus conflitos em formas visuais. Com abordagem psicanalítica, fazia uso da associação livre no trabalho de arte espontâneo, o qual era compreendido como uma projeção do inconsciente.
Posteriormente Janie Rhyne em 1973, e Natalie Rogers, em 1974, contribuíram de forma significativa para a história da Arteterapia explicando como o processo criativo acontece. Rhyne uniu a teoria gestáltica ao trabalho com arte. O foco do seu trabalho foi a experiência vivida no presente, na teoria do contato, na sensibilização e no conceito praticamente intraduzível de awareness. Na experiência gestáltica de arte, o processo criativo acontece na medida em que as pessoas expressam suas emoções, confiando e usando suas percepções sensoriais. A Arteterapia surge então como uma profissão e, em 1969, foi fundada a American Art Therapy Association.
No Brasil, em 1925, Osório César começou a utilizar a Arteterapia no Juqueri e, posteriormente, a psiquiatra Nise da Silveira, em 1946, começou a desenvolver também um trabalho arteterapeutico no Rio de Janeiro, particularmente no atendimento de esquizofrênicos, criando mais tarde o Museu do Inconsciente.
Atualmente temos vários cursos de Arteterapia distribuídos por todo o país; os mesmos têm crescido de forma rápida, e podemos dizer que a emergência e a consolidação do ensino e da pesquisa em Arteterapia no âmbito da Universidade e fora dela é um significativo evento científico dos últimos dez anos no Brasil. Este crescimento tão rápido parece ocorrer para atender as demandas do ser humano que, na atualidade, podem estar entorpecidos pela tecnologia e pelas doutrinas materialistas com suas tendências meramente utilitárias. A Arteterapia pode prover a alma de sua necessidade de libertação. A expressão artística, muitas vezes, exprime indivisíveis emoções, levando à concretização dos anseios e das necessidades do ser humano. Emoções que não encontram uma maneira socialmente aceitam de expressão, que se introvertem, criando fendas nas profundidades do psiquismo, e deformando suas estruturas básicas.
Certamente a linguagem abstrata presta-se a dar forma a segredos pessoais, satisfazendo uma necessidade de expressão sem que os outros os devassem. A linguagem abstrata cria-se a si própria a cada instante, ao impulso das forças em movimento no inconsciente. (SILVEIRA,1981, p.19)
O que garante o Homem sadio contra o delírio, a depressão e o sofrimento psíquico de ordens diversas não é a sua crítica, mas a estruturação do seu espaço. O sofrimento, muitas vezes, é oriundo do estreitamento do espaço vivido, do enraizamento das coisas no nosso corpo, da vertiginosa proximidade do objeto. Nos sintomas neuróticos, as experiências da espacialidade são essencialmente determinadas pelo tom afetivo dominante no momento. O espaço adquire qualidades peculiares de acordo com o estado emocional do individuo: sensação de plenitude ou de vazio, de espaço amplo ou opressor, iluminado ou sombrio.
A expressão artística, muitas vezes, exprime indivisíveis emoções, levando à concretização dos anseios e das necessidades do ser humano. Emoções que não encontram uma maneira socialmente aceitam de expressão, que se introvertem, criando fendas nas profundidades do psiquismo, e deformando suas estruturas básicas.
Minkowski (1968) aponta que vivemos em dois mundos, ou seja, dois sistemas de percepção totalmente diferentes: percepção de coisas externas, por meio dos sentidos, e percepção de coisas internas, por meio das imagens do inconsciente. A expressão plástica pode tornar real esse fenômeno psicológico por meio das imagens realizadas no ateliê terapêutico, permitindo que a nebulosidade de sentimentos e pensamentos ou a clareza de afetividade se torne visível. Se os conteúdos internos entram em intensa atividade, sua forte carga energética subverte a ordem espacial estruturada pelo consciente. Nesse sentido, podemos concluir que toda obra de arte pode ser considerada um documento psíquico, e é pela expressão artística que podemos entender as relações do individuo com o meio em que vive e também a idéia que ele tem da ordem cósmica.
Silveira (1981) alerta para o fato de que o espaço imaginário e o espaço da realidade estão estreitamente interligados. A reconstrução do espaço cotidiano acompanha a reconstrução do ego. Como o corpo tem necessidade de trabalho, de um fortalecimento muscular, a alma também necessita ser fortalecida. O trabalho por meio da arte proporciona o reconhecimento da dinâmica psíquica, tornando-se uma via de acesso à totalidade do ser, fortalecendo a alma.
Tem-se substituído a alma pela palavra psique. Mas será que a psique substitui a alma? Jung (1985) nos fala que “realmente é impossível fazer o tratamento da alma e da personalidade humana isolando umas partes do resto”(pg.91). Desta forma, podemos pensar que a Arteterapia pode possibilitar a ampliação da consciência, pois, ao promover o reconhecimento da dinâmica psíquica, um diálogo com os conteúdos inconscientes pode ocorrer e os mesmos podem ser trazidos à consciência. Esta ampliação da consciência permite que as projeções sejam recolhidas do mundo exterior e integradas. Não é o sujeito que se projeta, mas o inconsciente. Por isto não se cria a projeção, ela já existe de antemão. A conseqüência deste processo é o isolamento do sujeito em relação ao mundo exterior, pois, em vez de uma relação real, o que existe é uma ilusão. As projeções levam a um estado de ensinamento, no qual se sonha com um mundo cuja realidade é inatingível. Quanto mais projeções se interpõem entre o sujeito e o mundo exterior, tanto mais difícil se torna para o Eu perceber suas ilusões.
Entendemos por Eu aquele fator complexo com o qual todos os conteúdos conscientes se relacionam, diferenciando-o do Self, no qual também os conteúdos inconscientes se relacionam. Este fator se constitui como o centro do campo da consciência e é o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa. O Eu considerado como conteúdo consciente em si, não é um fator simples, elementar, mas extremamente complexo, sendo impossível, portanto, descrevê-lo com exatidão. O Eu possui livre-arbítrio, embora apenas dentro dos limites do campo da consciência, possibilitando, entretanto, um sentimento subjetivo de liberdade. O Eu é o sujeito de todos os esforços de adaptação do ser humano.
Mediados pela Arte, estes fenômenos da ampliação da consciência podem ser expressos de forma a adequar significados na vida da pessoa. Ou seja, a arte surge como potencialização, um recurso que propicia olhar a experiência vivida, atribuindo-lhe um sentido singular. A experiência arteterapêutica pode acolher e dar forma e significado ao que antes se apresentava como um desconforto. Para Delefosse: “...a consideração da interação que auxilia a explicitação do vivido, trata-se, portanto de um trabalho interativo que visa, de um lado, favorecer a atividade de construção do sentido do mundo vivido através de uma situação dialógica reflexiva e de outro lado, produzir conhecimentos psicológicos a partir deste material” (p.150.
Ainda segundo Delefosse: “compreender nas ciências do Homem é rejeitar a busca de formulas e leis universais, pelo menos enquanto objetivo principal, e buscar colher a partir do interior a subjetividade significante. A retomada da criatividade possibilita transformações e atribuições de novos significados às experiências vividas, frustradas, ou simplesmente sonhadas. Desta forma as experiências dolorosas e suas cicatrizes podem ser integradas numa consciência ampliada.
Grof (2000) sugere que no estado de consciência cotidiana identificamo-nos com apenas uma fração de quem realmente somos. Nos estados que chamou de holotrópicos, o que significa “caminhar em direção à totalidade do próprio ser”, podemos transcender as fronteiras restritas no ego corporal e reivindicar uma identidade total. Nos estados holotrópicos, ocorre uma mudança qualitativa de consciência de forma profunda e fundamental. Desenvolver um estado holotrópico de consciência leva o indivíduo a mudanças de percepção em todas as áreas sensoriais. No entanto, a consciência quando se amplia tem acesso a informações antes inconscientes, e libera um quantum de energia emocional que estava ligada a processos traumáticos do passado, e então retorna ao estado de vigília anterior, embora acrescida destas experiências e de seus conteúdos. Segundo Grof (2000): “Um aspecto particularmente interessante dos estados holotrópicos é seu efeito sobre os processos de pensamento. O intelecto não fica debilitado, mas opera de uma forma significativamente diferente do seu modo de funcionamento diário. Esse tipo de experiências holotrópicas é a principal fonte de cosmologias, mitologias, filosofias e sistemas religiosos que descrevem a natureza espiritual do cosmo e da existência. Elas são as chaves para a compreensão da vida ritual e espiritual da humanidade, desde o xamanismo e as cerimônias sagradas das tribos aborígenes, até as grandes religiões do mundo” (p.19).
Cézanne, pintor francês, tratava os objetos como homens e descobria a vida interior em tudo. Até mesmo uma taça transformava-se em um ser dotado de alma. A arte pode ser uma força capaz de levar o homem além do “vazio”. É uma linguagem capaz de estabelecer uma conexão com a psique e é a única capaz de compreendê-la. A arte devolve a liberdade à alma aprisionada pelo vazio, pelo medo ou ainda pelos sentimentos que não têm nome. E ela leva à concretização dos anseios da necessidade interior do ser humano.
Rollo May (1995) define criatividade como um processo altamente emotivo que decorre da experiência da auto-realização da nossa potencialidade com um intenso encontro com uma idéia. Kandínsky (1985), ao analisar as diferenças culturais, aponta que o silêncio é sentido como morte para os chineses cristãos enquanto os chineses não cristãos consideram o silêncio como a primeira fase em direção a uma linguagem nova. Depois de buscar esse silêncio interior atingimos o ponto zero, que possibilita a entrada na criação do novo. Este “novo” pode ser expresso pela modelagem em argila. A argila rompe a inércia, enaltecendo o princípio feminino da criação, gestando vida, possibilitando a vivencia simultânea dos quatro elementos da natureza: ar, água, fogo, terra. Gouveia (1989) descreve: “...quando em certos pedaços de barro, ele consegue achar sombras vivas que se movem e tudo o mais que for necessário para simbolizar os seus medos profundos, o cotidiano de sua vida em comum com os restos dos mortais, quando encontra a criança escondida na angustia da adolescência e da idade adulta ... e modela o que capta para além da aparência” (p.56).
Em relação ao vazio existencial, o medo profundo sinaliza uma dependência psicológica. Esta carência, a sensação de falta que se dá em todo ser humano, pode encontrar na Arteterapia, com a expansão da consciência, uma modificação de sentimentos, de visões e atitudes frente ao mundo, possibilitando uma transformação eficiente, uma transição menos dolorosa para um estado de inteireza do ser, porque o mesmo encontra um canal de expressão que pode conter o sofrimento. Kandisky (1985) afirma: “...como qualquer ser vivo é dotado de poderes ativos, e a sua força criadora não se esgota, vive, age e participa na criação de uma atmosfera espiritual” (p.113). A arte é, portanto é uma linguagem capaz de criar um canal de comunicação com a psique, é capaz de compreendê-la na sutileza dos seus nuances.
Ao considerar a dimensão espiritual da psique humana encaminhamos a nossa discussão para a questão da Psicologia que estuda atualmente o fenômeno da ampliação da consciência, muito presente nos processos arteterapêuticos. Os precursores da Psicologia Transpessoal concentraram-se no estudo da consciência e pesquisaram os fenômenos e as experiências “não ordinárias” de consciência. Dentro da perspectiva transpessoal a consciência comum é considerada como um estado contraído e defensivo. Neste sentido, nossa consciência opera inundada por um fluxo contínuo de pensamentos e fantasias que acorrem para atender as demandas de nossas defesas cotidianas. Dentro desta visão, a ampliação da consciência se daria por meio do abandono dessa contração defensiva e da remoção dos obstáculos ao reconhecimento do potencial de encontro com os mundos interno e externo, sempre presente no apaziguamento da mente e na redução da distorção perceptiva.
Diferentemente da concepção ocidental que considera apenas uma gama limitada de estados de consciência, fundamentalmente o estado onírico e o estado desperto, a Psicologia Transpessoal considera que há um amplo espectro de estados de consciência. Grof (1987) sugere que, no estado de consciência cotidiana identificamo-nos com apenas uma fração de quem realmente somos. Nos estados que chamou de holotrópicos podemos transcender as fronteiras restritas no Ego corporal e reivindicar uma identidade total. Nos estados holotrópicos de consciência, ocorre uma mudança qualitativa de consciência, profunda e fundamental. Desenvolver um estado holotrópico de consciência leva o indivíduo a mudanças de percepção em todas as áreas sensoriais. Assim, explica Grof: “Um aspecto particularmente interessante dos estados holotrópicos é seu efeito sobre os processos de pensamento. O intelecto não fica debilitado, mas opera de uma forma significativamente diferente do seu modo de funcionamento diário. Esse tipo de experiência holotrópica é a principal fonte de cosmologias, mitologias, e sistemas religiosos que descrevem a natureza espiritual do cosmo e da existência. Elas são as chaves para compreensão da vida ritual e espiritual da humanidade, desde o xamanismo e as cerimônias sagradas das tribos aborígines, até as grandes religiões do mundo” (2000 p. 19). Ao longo de nossa existência, em momentos de crise podemos re-desenvolver, romper ou ampliar as fronteiras do “Eu”. Isto significa que, a todo o momento, reconstruímos ou destruímos nossa identidade.
Uma das metas da terapia transpessoal seria a tentativa de rompimento com o estado de estagnação da consciência nas porções da personalidade que impedem que outras esferas do ser se manifestem, e, por meio deste rompimento, permitir que a personalidade integral exerça cada vez mais efeito nas atividades cotidianas do indivíduo. O resultado bem sucedido da terapia transpessoal pode ser descrito então como um senso ampliado de identidade, em que o Eu é visto como o contexto da experiência de vida, considerada como conteúdo, sem um grau de restrição tão dramático, como o que ocorre na experiência usual dominada pelo ego.
O conteúdo transpessoal inclui quaisquer experiências em que a pessoa transcenda as limitações da identificação exclusiva com o ego ou com a personalidade, o que termina por se constituir então num objetivo fundamentalmente similar ao da Arteterapia. Também inclui os domínios míticos arquetípicos e simbólicos da experiência interior, que podem vir à consciência por meio de imagens e de sonhos.
As experiências transpessoais têm uma posição especial na cartografia da psique humana. Os níveis rememorativo-analítico e o inconsciente individual são de natureza claramente biográfica. A dinâmica perinatal parece representar uma intersecção ou fronteira entre o pessoal e o transpessoal. Isto se reflete em sua profunda associação com o nascimento e a morte – o início e o fim da existência humana individual, fenômenos que, no momento, estão além de nossa compreensão. (Grof, 1997). Porém, tudo que podemos dizer é que no processo de desdobramento perinatal parece ocorrer um estranho retorno qualitativo e, por meio dele, a auto-exploração profunda e o inconsciente individual tornam-se um processo de aventuras e experiências no universo, que envolvem o que pode ser melhor descrito como consciência cósmica ou mente superconsciente.
Os sintomas emergentes refletem o esforço do organismo para livrar-se dos antigos estresses e das marcas traumáticas, e simplificar seu funcionamento. Este desenvolvimento é, ao mesmo tempo, um processo de descoberta da própria e verdadeira identidade e também das dimensões do próprio ser, que converte o individualismo com todo o cosmos e que são proporcionais a toda existência.


Trabalho do I Simpósio Internacional de Pesquisa em Psicoterapia – agosto 2006
Disponível em: http://www.puc-campinas.edu.br/rep/pos/arquivos/I_SIPP_Trabalhos-Resumos.pdf  pp.10-18 . Acesso dia 01 de agosto de 2011.

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