Pintura em tela- Violeta Parra/Chile |
Psicossomática não
deveria ser usada como um adjetivo para qualificar alguns tipos de doenças.
Porque, para os estudiosos que abordam o ser humano de forma integral,
psicossomática é um substantivo presente em toda forma de adoecimento,
incluindo todos os tipos de sintomas físicos, mentais, relacionais, familiares,
profissionais, sociais e espirituais. Por isso, pode-se afirmar com total
segurança de que qualquer sintoma é uma espécie de secreção simbólica que, de
forma violenta, viola o aparente equilíbrio do indivíduo para poder revelar, à
sua consciência, os segredos secretos do seu amor ferido. Ou seja, o sintoma é
um dos meios que a natureza psíquica utiliza para denunciar à consciência
egóica de que o indivíduo está cindido, desintegrado, separado ou dividido
neuroticamente.
Nessa premissa, quando surge qualquer tipo de
sintoma, ates de eliminá-lo, devemos transformá-lo em um guia para o
autoconhecimento, para evitarmos seu reaparecimento recorrente ou o surgimento
de novos sintomas mais graves e mórbidos. Porém, em função da nossa sociedade
estar cada vez mais fascinada e, consequentemente, dominada pelo racionalismo
científico, que pretende normatizar tudo para manter a normalidade estática de
tudo, e pelo capitalismo neoliberal, que transforma tudo em negócio,
objetivando lucro, acúmulo e poder excludente, compreender psicossomaticamente
os sintomas acaba sendo muito ruim, pois irá expor toda doença nossa
contemporânea, denunciando o quanto que o normal está distante do natural, que
é dinâmico e evolutivo.
Intimamente sabemos que a natureza não pode ser
controlada por muito tempo, e ao nos tornarmos mais flexíveis, abrindo mão da
ilusão do controle, diminuirão a exuberância das crises e do descontrole e, com
isso, relativizaremos as normas. Portanto, os sintomas e as crises. Mas, quando
surgem as crises e seus sintomas, é necessário fazermos uma boa anamnese,
equivalente a recordar - relembrar ou rememorar as emoções - que estão
associadas a cada sintoma, incluindo a análise simbólica do órgão, do sistema,
da função ou do tecido doente, e as consequências deste sintoma, tanto no que o
indivíduo deixou de fazer, quanto no que ele passou a fazer, além de uma enorme
gama de análises que podem surgir, contribuindo para que a ferida secreta venha
à tona.
Com isso, nossas mágoas podem ser choradas para
evitarmos que outros olhos ou pessoas as chorem por nós. Assim como os
ressentimentos, os sentimen-tos de culpa, inferioridade, abandono, desejos de
vingança, ansiedade ou medo, podem ser reconhecidos, ressignificados e
superados. Só assim a pessoa poderá envelhecer com bom humor, condição
essencial para que o sistema imunológico atue eficientemente, pois está
comprovado que ele reage imediatamente a qualquer tipo de situação onde esses
aspectos negativos estão atuantes no psiquismo do indivíduo, deixando de ser
funcional, chegando até a se voltar contra o próprio orga-nismo, como é o caso
das doenças autoimunes.
Nossa imunovigilancia é absolutamente capaz de nos
deixar protegidos de qualquer agende antigênico - de genética diferente da
nossa - eliminando eficazmente qualquer tipo de vírus, bactéria, fungo e até
vermes nocivos. Além disso, o sistema imunológico também tem competência de
localizar e eliminar toda célula aberrante que surge em decorrência do contínuo
e natural processo de renovação celular, onde a cada dia morre (por apoptose ou
necrose) e nasce (por repasse mitótico) cerca de um 1trilhão (principalmente,
em tecidos epiteliais e conjuntivos, responsáveis pelos revestimentos e pela
sustentação do corpo), das 100 trilhões de células que possuímos. Sem
esquecermos que temos dez vezes mais microrganismos do que células,
pertencentes a centenas de espécies, vivendo simbioticamente em nosso
organismo, também regulados pelo sistema imunológico que, por sua vez, é
absolutamente sensível às influencias negativas do humor.
Essas considerações servem para mostrar a magnitude
e a importância do conhecimento e da prática da psicossomática no âmbito da
saúde. Por tudo isto o profissional de saúde, independente da sua área de
atuação, especialização ou formação, deveria estar consciente dessas
implicações para poder atuar, o melhor possível, diante de todas as queixas
trazidas por seus clientes, evitando a simples supressão sem o bônus do
autoconhecimento, advindo da ampliação simbólica do mesmo. Além de adquirir a
flexibilidade do relacionamento humano e a capacidade de doação, onde os
critérios técnicos são substituídos pela força da ligação afetiva em busca da
cura, que equivale à integração dos opostos por meio do autoconhecimento, onde
o natural pode se expressar livremente no normal ou, infelizmente, na atual
normose coletiva.
*WALDEMAR MAGALDI FILHO. Psicólogo, especialista em
Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências
da Religião. Autor do livro: "Dinheiro, Saúde e Sagrado", coordenador
dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, DAC -
Dependências, abusos e compulsões, Arteterapia e Expressões Criativas do IJEP (www.ijep.com.br)
em parceria com a FACIS. wmagaldi@gmail.com
Fonte: http://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=208&ref=psicossomatica---o-sentido-do-adoecer#conteudo.
Acesso em 02/05/15
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